Lição 1 – “Edificarei a minha igreja”.
A
natureza e origem da igreja cristã
Texto-base : Atos 2.37- 47
Texto áureo: Atos 2.44 “E
todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.."
Introdução (Mt 16.13-20):
Não houve maior, nem melhor pedagogo
do que Jesus. Ele usava elementos comuns da vida, do conhecimento e da cultura
de seu tempo para explicar e fazer-se entender. Quando ele quis instituir o
novo Israel, não usou os termos povo ou nação, por suas conotações como raça ou
etnia, sujeitos a um governo institucional e relacionados à infidelidade de
Israel, tampouco pensou em multidão no sentido de massa humana. Ele usou o
termo “ekklesia”, que significa
assembleia, convocação, congregação, ou reunião, cujo correlato hebraico é “qahal” do Antigo Testamento, que designa
Israel num sentido ideal como propriedade peculiar de Deus e descendente de
Abraão; refere-se a Israel como nação, porque não existia a igreja de Israel,
que pese ser uma nação teocrática.
Ao expressar “Edificarei a minha Igreja”, Jesus expõe a visão profética do
significado final da promoção do Reino. A instituição da igreja ultrapassou o
sentido da congregação de Israel, porque a nova congregação passou a ser um
corpo vivo com membros que o aceitam em suas vidas e o declaram como Salvador e
Senhor.
A igreja foi gerada na mente de Cristo
e sob a direção do Espírito Santo, encontrou o seu expressivo uso desde os
tempos do Novo Testamento até nossos dias, dentro de um processo de assimilação
do termo e do organismo. Não é bom pensarmos que logo a partir da declaração
“edificarei a minha igreja” por Jesus, tenha ocorrido a compreensão imediata
dos presentes sobre a igreja. Ao estudarmos o período apostólico, entenderemos
que esta congregação era local, com uma
organização definida. Como um corpo autônomo, requeria uma qualificação da
mesma. Essa qualificação era: (1) ser salvo (At 2.47). (2) ser batizado
biblicamente (At 2.41); (3) devia viver em conformidade com as normas cristãs
(1 Co 5.1-6; 14.23).
A origem do templos ( Gn 28.18- 22; 1 Cr 22.2-5; 2
Cr 6.9-11; Ed 4.13-18)
Os povos pagãos construíam templos aos seus
deuses, feitos por suas próprias mãos. Os templos de Israel surgiram de forma
diferente. Os patriarcas edificaram altares, adoravam e ofereciam sacrifícios
ao Senhor Deus; os chefes de familiais conduziam o culto a Deus. Partindo dessa
pratica, Noé, ao sair da arca com sua família, pisando em terra seca, edificou
um altar e ofereceu um holocausto a Deus (Gn 8.18-20). Abraão, ao receber a
promessa de Deus que lhe daria a terra dos cananeus, edificou um altar ao
Senhor; em Betel, edificou outro altar e invocou o nome do senhor (Gn 12.7,8).
Jacó, diante da extraordinária visão da escada que subia ao céu e do diálogo
mantido com Deus, erigiu uma coluna sobre o qual derramou azeite e disse: “Quão
terrível é este lugar! Este não é outro senão a casa de Deus; e esta é a porta
dos céus” (Gn 28.17). Assim fizeram Josué (Js 8.30,31; Dt 27.4,5), Gideão (Jz
6.24-26), davi (2 Sm 24.18-25) e Elias (1 Rs 18).
Temos altares , por assim dizer, o embrião do
templo. Davi pretendeu construir um templo a Deus, mas Ele não o permitiu
(1 Cr 22.6-10). Salomão construiu o
templo, mas tornou-se idólatra, o povo se tornou rebelde, infiel, até que Nabucodonozor
submete o povo de Israel ao cativeiro (2 Cr 36.1-21). Setenta anos esteve no
cativo na Babilônia (Iraque, hoje) até que Ciro, rei da Pérsia (Irã, hoje) é
usado por Deus para libertar o seu povo e mandar construir o templo (Ed
1.1-11). Zorobabel constrói o templo (Ed 3-5). Este foi profanado e destruído
pelos anos 175 a 160 a.C. O templo do qual Jesus expulsou os mercenários foi
incendiado no ano 70 d.C.
O templo sem igreja (1 Cr 22.2-5; 2 Cr 6.9-11)
O templo foi construído por ordem do rei. O
povo o tinha como a morada de Deus. O lugar era considerado tão sagrado que
somente podiam entrar nele os circuncidados e, no altar chamado santo dos
santos, unicamente, o sumo-sacerdote. O gentio não podia entrar no templo
porque poderia ser morto. Ninguém ousava desrespeitar a lei. Ora, a lei é boa,
mas Israel passou a adorar o templo do Senhor. O povo de Israel tinha orgulho
de ser descendência de Abraão e entendia que tinha direitos adquiridos para a
eternidade, mas a descendência racial de Abraão não lhe dava direitos
automáticos de bênçãos divinas (Mt 3.9; Rm 9.7). No Antigo Testamento, havia o
templo, mas faltava a igreja.
A igreja sem templo (At 2.37-47)
Desde que Cristo se propôs a edificar a sua
igreja, aconteceu a mais extraordinária revolução espiritual jamais conhecida
no mundo. Pedro deixa claro quem é a Pedra principal da igreja – Cristo (1 Pe
2.4-8). Ao ensinar sobre a edificação espiritual da igreja, Paulo diz:
“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo o próprio Cristo
a principal pedra de esquina...”(Ef 2.20,21). Logo, não é Pedro o fundamento da
igreja. Se fosse Pedro, por haver sido esse apóstolo que teve aquele
discernimento cristalino ao declarar “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo,
como ficaria a igreja diante da declaração enfática do nosso Senhor, que se
dirigiu ao mesmo Pedro momentos depois e lhe disse: “para trás de mim, satanás,
que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de
deus, mas sim nas que são dos homens” (Mt 16.23).
Com Cristo, a relação de comunhão com Deus
está muito além de um templo construído sobre pedras ou homens. A igreja
reconhece que o templo é o lugar mais apropriado para o culto público a Deus,
porém, o culto público depende do culto pessoal de cada crente. A igreja, cujo
edifício espiritual não está fundamentado em Jesus Cristo, está eivada de erros
e desvios doutrinários. Com Cristo, como pedra fundamental, a Igreja dispõe do
acesso direto ao Pai porque cada membro é um santuário, no qual Deus habita (1
Co 3.16,17; 6.19). Reconhecemos a importância do templo para o culto, mas não
depende dele para a existência plena da igreja. Os convertidos a Cristo
passavam a ter um sentimento diferente, e ouvindo a mensagem compungiam-se-lhes
o coração (trouxe-lhes arrependimento), reconhecia que eram frágeis diante da
verdade e perguntavam: “que faremos, varões, irmãos?” A pregação insistia no
arrependimento pela fé em Cristo e na obediência do batismo. Em consequência, a
igreja foi se constituindo numa força extraordinária, que inundou Jerusalém com
o evangelho, que não era só pregado a palavra, mas com o viver diário de cada
cristão. Os apóstolos e todos os demais discípulos tinham muito para ensinar
sob a ação do Espírito Santo, que os guiava a toda a verdade (Jo 16.13). A
população de Jerusalém era surpreendida pela vida e forma dos cristãos tratarem
a todos. Aqueles primeiros cristãos eram firmes na doutrina dos apóstolos, pois
reconheciam que eram ignorantes e precisavam aprender mais. E, que doutrina era
essa dos apóstolos? Eles não começaram a ensinar outra coisa, senão aquilo que
aprenderam de seu Senhor e Mestre. Eles não vinham com inovações, nem vãs
filosofias. O ensino da doutrina dos apóstolos era e é indispensável para
consolidação da fé dos novos convertidos. Ademais, toda igreja perseverava na
comunhão, no partir do pão e nas orações. Comunhão significa ter tudo em comum,
não somente no aspecto material, mas sobre tudo no espiritual; o primeiro é
consequência do segundo. Usavam o templo que não lhes pertencia, mas
perseveravam unânimes no templo e nas casas. Tinham prazer de estar juntos.
Assim era o sentimento dos convertidos a Cristo.
CONCLUSÃO
A
igreja é a congregação dos remidos por Cristo (Jo 3.16). Cristo é a cabeça da
igreja, sendo ele o próprio Salvador do corpo (Ef 5.23). Somos membros do seu
corpo (Ef 5.30). A igreja é uma realidade distintiva no Novo testamento... Sob
a nova Aliança, os sacerdotes, os sacrifícios, o santuário do Antigo
Testamento, foram substituídos pela mediação de Jesus (Hb 1 a 10), A limitação
da antiga aliança a uma só nação (Dt 7.6; Sl 147.19,20) é substituída, em
Cristo, em igualdade de condições, de crentes de todas as nações (Ef 2 e 3; Ap
5.9,10). O Espírito Santo é derramado sobre a igreja, a fim de que a comunhão
com Cristo (1 Jo 1.3), o ministério da parte de
Cristo (jo 15.18; Ef 1.14) se tornassem realidades na experiência da
Igreja.